10 setembro, 2009

498. chá de sumiço (a Belchior)

Sumiu. Ninguém deu por ele pois não fez falta. Aliás, há tempos não fazia falta. Que se recorde desde que era zagueiro do Terrão F.C. em Sobral na década de Setenta.

497. síndrome de tcheckov

Anton era um médico competente e um escritor extremamente criativo; mas nas cantadas – atentem - era simplesmente um fracasso. Quando a dama passou com o cachorrinho em frente à janela do seu consultório àquela tarde ele saiu-se com esta pérola:
"É muita areia para o meu caminhãozinho!"

496. contatos

Que não lhe viessem com estórias de contatos imediatos. Um homem de ciência precisa ter antes de tudo paciência e perseverança. Como podia ser imediatista se vinha tentando se comunicar com os venusianos há pelo menos quarenta anos?

08 setembro, 2009

495. engarrafamento

Não tem como escapar. Nem há atalhos que possam servir de rota de fuga que as veias e vísceras da cidade estão todas congestionadas. É uma loteria: a cola passa de mão em mão e eles se animam e vem e escolhem uma fêmea desprotegida no flanco exposto da manada. E atacam. Os olhos infantis de bandido vidrados, injetados, estouram com naturalidade o vidro com insufilme e coletam o que lhes parece valer alguma coisa: a bolsa de grife que é uma imitação perfeita da que vendem na Daslu; o celular no console que é verdadeiro; os seios macios, que tocam curiosos, e que são falsos.

494. e agora?

José riu por último. Quando a festa acabou e todos já se tinham ido. E não riu melhor pois ria de si, do seu próprio ridículo e assumia o fato de que era uma piada. Então chorou. E só então sentiu-se melhor.

493. tigresa

Saiu vestida para matar. Encontram-na morta. E despida.