08 agosto, 2012

haicai

Contra o por do sol
Contemplando a sombra adulta
Menininha ri

haicai

Faça sol ou chuva
Frio de lascar ou calor
Camela o camelô

haicai

Milho empendoado
Aos olhos da menininha
Bonequinha loura

haicai

Manhã tão chuvosa
No semblante do feirante
Resignação

haicai

Curumim enxerga
No branco do algodão doce
Barbas de Sumé

haicai

À toa na praça
Indiferentes à crise
Mendigos e pombos.

haicai

Por não te encontrar
Atiro o buquê de flores
Para Yemanjá.

haicai

É tempo de manga
Na cara lambuzada do menino
A prova do crime

silicon valley (miniconto)

Aqueles engenheiros com quem vivia saindo, uns Nerds. Racionais. Práticos demais. Poesia nenhuma. Em matéria de cama, então, nada criativos. Era deixar cair o sutiã para ouvi-los dizer as mesmas bobagens. Decoreba. Que nem Tabela Periódica.

haicai

domada a megera

a tarde inteira na cabeleireira
torna em bela a fera

haicai

sons noturnos

punks cadenciam a revolta
fúria dos coturnos.

haicai

dentro em pouco

a noite que agoniza
já não me pertence

haicai erudito

“Hoc putas?*”,gasto o meu latim

Língua que se faz de morta – ela retruca
Pra falar mal de mim.

*. “que pensas disto?”

07 agosto, 2012

haicai


da encosta da serra
escorre um veio cristalino
pisca o olho d'água

Corpse - miniconto

Não foi à Exposição Corpos, no Ibirapuera. Amava aquele tipo de arte mas odiava fila. Além do mais era um dia chuvoso, o que convidava a ficar em casa, lendo um bom livro, degustando um vinho de boa cepa, curtindo sua coleção particular.

Funeral do Político Corrupto (miniconto)

 Quando baixou o túmulo, mesmo sem o recurso milenar das artes egípicias, mumificou-se. Não o devoraram os vermes; pois, como se sabe, os pequenos asquerosos não são dados ao canibalismo.

Elle et Ella



Ela adorava trufas

Ele Truffaut

Ela amava o Rambo

Ele Rimbaud
...

Ela era doida alucinada por marmelada

Ele pirava de prazer só de ler

Um verso de Mallarmé.



E mesmo assim Eles se completavam

Nas noites profanas, nos fins de semana, todo santo-dia

Se locupletavam

De pão , biscoito, churros, broas, sonhos, croissants

E poesia.

Sísifo





Da alavanca de Arquimedes

Da roda, cuja patente é já de público domínio

Das roldanas e contrapesos de da Vinci

...
Ou do pêndulo de Focault...

Tu dependes.



E só tens os braços e as pernas e a vontade

Para que realizes

A tarefa que te cabe.

Conde Nado (conto de vampiros)


- Naquele tempo, rapaz, eu só acreditava.... no pulsar das minhas veias - queixou-se saudoso o vampiro.

- Também custiste o pessoal do Ceará, Conde Nado? Ednardo, Fagner, Belchior, Fausto Nilo...

No aço dos seus olhos, baço, vislumbrei um traço de tristeza, uma melancolia profunda.

- Terra do Sol. Estou fadado a não voltar mais lá. Sou agora uma criatura d...
a noite. Outras veias pulsantes me interessam.

- E a Transilvãnia?

- Aquela ingrata? Trocou-me por um lobismem das bandas do Cariri. Imagine que vivia me chamando de cachorro, a rapariga. E agora deu para gostar de uivo ao luar do Sertão. Vá entender as muleres, cabra. Vá entender!

Numa fria (poemeto)


Cara-de-pau, sim, admito, eu sempre fui
aí caí na besteira de dar em cima daquela lambisgóia
Medusa é o meu nome riu-se a convencida
E deixou-me assim: com cara-de-sequóia.

É isso aí, amizade...

- Pois é, agora sou escritor.
- É mesmo e... quanto já ganhaste?
- Uns trinta, quarenta...
- $$$$$????
- Não, amigos.
- ???
- Moeda forte, com lastro.

Prosa (minicrônica)

Prosa

Quando criança, no sertão de Crateús, eu costumava passar férias escolares na casa das minhas avós. De vez em quando elas largavam seus afazeres, trancávamos a casa a tramela ( para os animais domésticos não entrarem, e não os homens; pois naquele tempo podia-se até dormir de porta aberta.) e saíamos para fazer visitas. Os vizinhos, eram todos compadres, comadres.

Minhas avós amorteciam a...
minha impaciência infantil:

"É só uma prosa com a cumadre S. Coisa rápida. Toma o café e fica quieto!"

"Que cousa, minino? É o tempo de um dedin de prosa com o cumpadre F Coma uma broa e sossega!."

Prosa. Passei a prestar a atenção às conversas. E descobri que o aquela gente inculta ebela praticava, o proseio do dia-a-dia, a prosopopéia, pasmem, era Poesia pura.

Bananas (miniconto)

 - Chega aí. Olha só o que eu descolei.
- Caraca!! Isso é.... dinamite?
- Que tu acha? O vigia da pedreira lá na Cantareira que descolou. Chegado meu.
- E aí, quando a gente vai detornar uns caixas?
- Hoje mesmo, na hora do jogo. Com a foguetada toda ninguém vai nem notar.
- Porra, tu é crânio véio! Pensa em tudo.

Aquela noite não houve foguetório. O time local fracasso...
u. E os parceiros resolveram assim mesmo detonar o caixa. Só que as bananas de dinamite, úmidas, falharam.

- Só tu mesmo para arranjar essas porras vencidas.
- Eu pensei que...
- Tu é burro mesmo! Quando pensa, pensa errado!
Gaveta Sentimental (poemeto)

Do amor que tive, o que guardo?
Ora, não ria:
nada de flor seca em meio a um livro
Ou fotografias com dedicatória.
Cartas? Uma só: De alforria.
Lay Lady Lay

Emengarda - ela assim se chamava
E pomposa ainda assinava : Lady Loretta Emengarda
Por ela eu não sabia se casava
Ou comprava uma espingarda
Por via de dúvidas ou medo
Pus-me a flertar com o degredo
E comprei uma passagem (só de ida)
Pra Passárgada

681. haicai


veja a mariposa
que da noite é uma dama
não nasceu pra esposa