27 dezembro, 2012

Halloween (miniconto)

- Na verdade são  para o meu avô – disse o garoto fantasiado de Chuck, o boneco assassino.
 
- O velho  gosta de doces, eh?

 - Adora. Mas Vovó o proíbe de comprá-los. É diabético.

Tons de Cinza (miniconto)

Haviam se conhecido nas sessões semanais dos D.A (Daltonicos Anônimos). Apaixonaram-se perdidamente e quando, como era natural que acontecesse, fizeram amor,  ao atingirem o êxtase supremo do orgasmo, o universo que os congregava explodira qual fogos de artificio  em milhões e milhões de cores incandescentes.
Quando anos depois, como também era natural que  um dia acontecesse, aquele amor se desgastou, e eles faziam amor automática e esporadicamente, e apenas por convenção e obrigação, o gozo vinha ralo, opaco, desbotado. Era uma questão de tempo para que tudo voltasse ao processo cromático inicial, aos antigos tons de cinza que tingiam a sua realidade.
 

27 novembro, 2012

haicai


Girassol Quem fez-te
Do astro-rei a semelhança?
Deus Pai ou Vicente?

Segunda Chance (conto)

Todo dia o paraplégico Agostinho ia à beira de um enorme precipício com a firme determinação de que dali se atiraria para acabar com a sua vida – algo que não pedira, fardo que tanto o incomodava -  mas nunca encontrava a coragem necessária ao cumprimento do que se propunha. E limitava-se a chamar a plenos pulmões a si próprio de covarde e ouvir o irritante eco, lá embaixo, nos socavões.
“Covarde! Arde! Arde! Arde!  Arde! Arde! Arde!”
Um dia – havia chovido muito na noite anterior – ele aproximava-se da borda do penhasco para mais uma tentativa de suicídio  quando  escorregou e despencou pela encosta acidentada entre pedras e espinhos.
Foi uma queda e tanto. Ossos fraturados, traumatismos, hematomas...  e ele ainda vivo, que vaso ruim, como dizem, não quebra. Apesar de tudo isso não conseguiu o que queria.
 Agora o tetraplégico Agostinho faz da língua uma lâmina. Vive de aporrinhar a enfermeira contratada por seus parentes para cuidá-lo, para que empurre sua cadeira de rodas e deixe-a deslizar outra vez penhasco abaixo. Quer por que quer uma segunda chance. Mas a enfermeira, sábia, tem a percepção de que os tempos andam difíceis e que se fizer o que ele lhe pede ficará desempregada. E em contrapartida redobra os cuidados.

Conto da Purificação


 

Poema da purificação


Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.


Carlos Drummond de Andrade
 

O primeiro corpo, encontraram-no uma bela manhã de sol forte enganchado num galho da velha ingazeira que, qual um braço esguio parcialmente submerso, movia-se em nervoso ritmo tocado pela corrente. Misericórdia vegetal para com o cadáver. O braço da ingazeira piedosamente o recolhera.

 “Um menino!”, afirmaram uns. “Uma menina”, contestaram outros. Como quando um ser vem ao mundo e é dado à luz. Tinha  a idade em que as diferenças entre meninos e meninas são quase imperceptíveis. Por isso mesmo o pomo de discórdia..

 Morto, morta. Disso todos tinham certeza.  Afogamento, era a causa mais provável.

 Samaritanos prestos logo acorreram: As lavadeiras, os pescadores... E os inevitáveis curiosos, gente desocupada.

 À força de vigorosas  remadas a canoa encostou, e a criança foi recolhida. O processo de putrefação ainda não se fazia sentir. Hematomas azulados marcando a  pele branca como o leite, talvez provocados por colisões contra as pedras em um trecho anterior do rio conhecido como porto das pedrinhas. Nas omoplatas, dois talhos enormes. Fendas abertas na carne que ninguém conseguia explicar.
Convocassem o vigário.
 
 A igreja lá no alto. O galo do campanário tocando com sua crista rubra o céu.
 Um rapazola de pernas rápidas  galgou as pedras que martirizavam penitentes. Pela urgência esmurrou as grossas portas chamando por frei António.
 Inútil. Que surda é a luxúria. Insolúveis  os mistérios gozosos.  Encerrado na sacristia, os santos encobertos, o  padre sucumbia à tentação da carne tenra.
 O rapaz não se deu por vencido e tangeu os sinos desentocando do covil o lobo.
O que o biltre viu em seguida, a ninguém foi dado ver. E tudo aconteceu por mais seis vezes. Para cada inocência perdida nas mãos de frei Antonio  o rio trazia um novo anjo morto.
Intimamente o culpado quis se enforcar na corda do sino. Quis atirar-se da torre da Igreja. Quis misturar veneno ao sangue de Cristo. Não achou coragem.
 Seus dias estavam contados. E seu nome inscrito já na caderneta negra dos impuros.
 Ao entrar a quaresma,  acometeu-o estranha moléstia. Secou. Havia ainda o desejo, a ânsia, os apetites sórdidos, mas o corpo os rejeitava. E frei António padeceu entrevado por dez anos, sob o olhar do arcanjo São Miguel. Nem quando roubaram o santo para que a estiagem cessasse, ele sentiu melhora.
Um dia, simplesmente, desapareceu. Um buraco escuro tragara a casa paroquial  levando-o junto. Um buraco como uma boca abissal faminta  e escancarada  que ninguém conseguiu vedar.

Mais um título para Éder Jofre - Antologia

Participo com um conto intitulado "A Aposta" desta antologia em homenagem ao nosso maior Campeão de Boxe: Éder Jofre.
E aí, vai encarar?? 

12 novembro, 2012

haicai

De olhos de coruja
Que conjuram dentro da noite
Há quem não fuja?

Bodas em Guan Dong (conto)

A união matrimonial de Dao Lei e Chiang Han foi acordada com tradicional cerimônia budista e farta ceia promovidas pela viúva Ping, mãe do rapaz, juntamente com o senhor e a senhora Han, os pais da moça. Conquanto não se conhecessem pessoalmente, não se amassem e pertencessem a uma geração mais liberal que dos seus pais, não houve qualquer resistência ou oposição da parte dos jovens - nem poderia ser diferente, já que ambos haviam morrido em circunstâncias, lugares e datas distintas, cerca de dois anos antes.

Povoado (poema)

Era uma rusga na serra, um lugarejo, um lugar ermo
A meia-légua a pé do nada - para um obstinado penitente andejo
Fim de mundo e abrigo para fugitivos
Quilombo-abrigo para ex-cativos.
O seu fio tênue d’água rio não perene não era o Tejo
Tampouco um brejo
Ou açude que acudisse súplicas e preces.
Mas era o que lhe cabia.
Era só um povoado acanhado a se despovoar de vivos
Há – dizem - qualquer referência a ele nos velhos livros ilegíveis
Da antiga Freguesia de Nosso Senhor do Bonfim.

O Suicida (conto policial)


Quando do passamento do interno Audálio Olvedo, a causa mortis, segundo o médico do próprio Sanatório F. Nietzsche, deveu-se a uma otite aguda causada por severa ação bacteriana.  Ninguém ousaria contestar o laudo oficial daquele profissional respeitável,  mas Honório Bustos Domecq, companheiro de quarto e adversário preferido do  morto em memoráveis partidas de xadrez, sustentava a versão de suicídio.

 

- Para que se resolva este caso, senhor – opinou Domecq dirigindo-se ao  diretor da instituição de recuperação de esquizofrênicos -  precisamos antes descobrir quem fez facilitou a entrada de uma pistola nesta casa.

 

- Uma pistola. O que o senhor quer dizer?

 

- Quero dizer que  a vítima, por alguma razão, foi induzid a disparar contra o próprio ouvido.

 

O Diretor não se alterou.  Para ele não era novidade que  o paciente Jorge Luis Borba assumisse a personalidade de detetives imaginários, de personagens consagrados pela ficção policial. Um dia era Marlowe, outro podia ser Maigret. Às vezes acordava Sherlock Holmes e dormia Inspetor Espinosa. Era a sua mania.  Por causa dela era que vinha sendo, sistematicamente , ao longo dos anos, sempre que as crises se acentuavam, recolhido àquele manicômio. O momento, a ocorrência do óbito em si, também colaboravam.

 

Experiente o Diretor sabia dos riscos de contrariar os delírios de um interno e, sendo ele próprio um aficionado aos romances de detetive,  achou melhor fazer o jogo.

 

- Ok, Domecq. Ordenarei uma busca. Quando localizarmos a arma a encaminharemos à pericia técnica. Quem sabe descobrindo em nome de quem está registrada possamos chegar ao mentor do crime.

 

- Adianto porém que já localizei a arma, senhor.

 

- Já? Quanta presteza, rapaz! E a trouxe consigo?

 
Quem depositou sobre a mesa de carvalho  diretor aquela pistola d’água de plástico transparente com detalhes verdes, e tinha nos lábios um sorriso triunfante, não era o interno José Luis Borba -  mas Honório Bustos Domecq, um dos mais perspicazes detetives do gênero literário policial.

haicai

Sol a pino arde
Bicho-preguiça espreguiça-se
Acordou tarde

haicai

A melancolía
É como cólica – de tanto comer
Melancia

17 outubro, 2012

quasehaicai


O medo de qualquer modo
É noite escura de chuva
Sem o abrigo de um toldo

haicais de setembro


As teias da aranha
Contra o sol do meio dia
Cintilam fatais

Pescador se ilude
E se encanta com o canto
Da Sereia do açude

Mandei um bilhete
Você  não leu  ou  rasgou-o
Segue um ramalhete


Para não dar um fora
Lapidarei minhas palavras
Polirei metáforas

O luar na serra
Faz-me lembrar com saudade
Lá da minha terra

No fundo do poço
Por causa de um amor ingrato
O pobre moço
 

haicai

Os quatro elementos
Disputam no braço os favores
Da rosas dos ventos

Festival Pornô do Minuto (nanoconto)


Filmei minha  ejaculação precoce.

Festival do Minuto (nanoconto)

A vida do natimorto Muryel, com certeza daria um filme

 

Ladeira da Memória (miniconto)

Sentado junto ao velho chafariz, a vovó não lembra bem ao certo o que veio fazer ali.

 

haicai


Pego em flagrante
Assaltando a geladeira
Senhor elefante

haicai


rio assoreado
pela ganância que o devora
pelas bordas

haicai


Estações confusas
Como escrever um haicai
Nesta barafunda?

haicai


Entre os sons urbanos
Ainda o blém-blém dos sinos
Beco dos aflitos.

haicai

Cada entardecer
Apressa-me a grande noite
Último adormecer

peometo


"Circulando, bastardos! Circulando!"
A guarda pretoriana rugia
Onde e quando se juntam mais de dois
Só pode dar em orgia

Manias (nanoconto)


Maníaco por limpeza, fã inconfessável do Dr. Bactéria, Pilatos lavava as mãos até dez vezes ao dia.

 

Tremores (miniconto)


A  terrina de missoshiro à sua frente esfriava. Nos brotos de soja e nos cubos de tofu a velha Obasan* leu a sua sorte: tomasse cuidado quando começassem os tremores. Fatalmente o levariam`ao óbito.
 
Por precaução evitou embarcar para ao Japão dos seus ancestrais. Desempregado deu para beber mais do que o normal. Antes de morrer, se não entornasse uma branquinha, não firmava o pulso.

11 setembro, 2012

Trem para Catende (poemeto)



Naquele velho trem para Catende
Ela me disse: " I wanna Hold your hand"
E eu lhe disse I don’t understand
E o papo morreu por aí.
É, poderia ter sido um bela história de amor

haicai

Mais barato e prático

Viaja - No mundo da lua
Aquele lunático

haicai

Acendida a vela

À santa dos endividados
Fogo na favela

haicai

Beco dos aflitos

Os fantasmas enlutados
São sacos de lixo

PRÊMIO HENRY EVARISTO DE LITERATURA FANTÁSTICA

PRÊMIO HENRY EVARISTO DE LITERATURA FANTÁSTICA





    RESULTADO DO PRÊMIO HENRY EVARISTO DE LITERATURA FANTÁSTICA


Queremos agradecer a participação dos 92 contistas que enviaram os seus textos para este evento literário. Entraremos em contato, via email, com os vencedores sobre a entrega dos livros (premiação). O ebook digital, com todos os 10 contos classificados abaixo, logo será publicado aqui no site também para que todos possam apreciar. A estimativa para a publicação do ebook (pdf/epub/mobi) é de 10 a 20 dias. Parabéns aos vencedores!


1º - Profanadores - Chico Pascoal
2º - Anátema - Rafael Peres
3º - O Passado volta - Verônica S. Freitas
4º - O Caminho de volta – André Soares Silva
5º - Almas Mortas - Sofia Geboorte
6º - Entre amigas - Eni Allgayer
7º - O Diabo mora nesta casa - Jorge E. Machado
8º - Manequim - Reginaldo Costa de Albuquerque
9º - Lágrimas de criança - Pedro Viana
10º - Caminhos Perigosos - Hélio Sena



Fantasticon 2012 – VI Simpósio de Literatura Fantástica


27 agosto, 2012

Poema dos 80's

depois de trucidar os girassóis


sucessivas gerações com chaminés e aerosóis

alvejaram a camada azul de ozônio.

agora, no ar rarefeito das manhãs

um efeito estufa o peito e ameaça - acabo com tua raça

 humana.



é possivel

que nas tintas do futuro imprevisivel

 extintas aves e árvores

 argonautas interestelares exclamem perplexos:

 "incrivel, sempre pensamos que a terra fosse azul!"

Alergia (miniconto)


Nunca deixava de vir visitá-lo. Falava com ele, coitadinha. Contava as novidades. Trazia flores. Sempre. E jurava por Deus que o ouvia espirrar pois ainda era alérgico, mesmo já estando do outro lado.

Dia dos Mortos - Miniconto

"Tá certo que quem está vivo sempre aparece", queixou-se o velho fantasma, sentado em sua própria lápide. "Mas precisava virem todos de uma vez?"

Xô!! (miniconto)

Durante o jantar traí-me e comecei discretamente a comer utilizando a mão esquerda; Minha mão, religiosa e intolerante, logo percebeu e, gritando histérica  “Xô, coisa-ruim!”, me bateu no braço despedaçando aquela que não era senão a minha imagem invertida recém-escapada do antigo espelho da camarinha da minha avó.

photographia (miniconto)

A juventude, se não me falha a memória, tinha outras cores – disse a avó mirando sua própria foto, aos quinze, em sépia.

08 agosto, 2012

haicai

Contra o por do sol
Contemplando a sombra adulta
Menininha ri

haicai

Faça sol ou chuva
Frio de lascar ou calor
Camela o camelô

haicai

Milho empendoado
Aos olhos da menininha
Bonequinha loura

haicai

Manhã tão chuvosa
No semblante do feirante
Resignação

haicai

Curumim enxerga
No branco do algodão doce
Barbas de Sumé

haicai

À toa na praça
Indiferentes à crise
Mendigos e pombos.

haicai

Por não te encontrar
Atiro o buquê de flores
Para Yemanjá.

haicai

É tempo de manga
Na cara lambuzada do menino
A prova do crime

silicon valley (miniconto)

Aqueles engenheiros com quem vivia saindo, uns Nerds. Racionais. Práticos demais. Poesia nenhuma. Em matéria de cama, então, nada criativos. Era deixar cair o sutiã para ouvi-los dizer as mesmas bobagens. Decoreba. Que nem Tabela Periódica.

haicai

domada a megera

a tarde inteira na cabeleireira
torna em bela a fera

haicai

sons noturnos

punks cadenciam a revolta
fúria dos coturnos.

haicai

dentro em pouco

a noite que agoniza
já não me pertence

haicai erudito

“Hoc putas?*”,gasto o meu latim

Língua que se faz de morta – ela retruca
Pra falar mal de mim.

*. “que pensas disto?”

07 agosto, 2012

haicai


da encosta da serra
escorre um veio cristalino
pisca o olho d'água

Corpse - miniconto

Não foi à Exposição Corpos, no Ibirapuera. Amava aquele tipo de arte mas odiava fila. Além do mais era um dia chuvoso, o que convidava a ficar em casa, lendo um bom livro, degustando um vinho de boa cepa, curtindo sua coleção particular.

Funeral do Político Corrupto (miniconto)

 Quando baixou o túmulo, mesmo sem o recurso milenar das artes egípicias, mumificou-se. Não o devoraram os vermes; pois, como se sabe, os pequenos asquerosos não são dados ao canibalismo.

Elle et Ella



Ela adorava trufas

Ele Truffaut

Ela amava o Rambo

Ele Rimbaud
...

Ela era doida alucinada por marmelada

Ele pirava de prazer só de ler

Um verso de Mallarmé.



E mesmo assim Eles se completavam

Nas noites profanas, nos fins de semana, todo santo-dia

Se locupletavam

De pão , biscoito, churros, broas, sonhos, croissants

E poesia.

Sísifo





Da alavanca de Arquimedes

Da roda, cuja patente é já de público domínio

Das roldanas e contrapesos de da Vinci

...
Ou do pêndulo de Focault...

Tu dependes.



E só tens os braços e as pernas e a vontade

Para que realizes

A tarefa que te cabe.

Conde Nado (conto de vampiros)


- Naquele tempo, rapaz, eu só acreditava.... no pulsar das minhas veias - queixou-se saudoso o vampiro.

- Também custiste o pessoal do Ceará, Conde Nado? Ednardo, Fagner, Belchior, Fausto Nilo...

No aço dos seus olhos, baço, vislumbrei um traço de tristeza, uma melancolia profunda.

- Terra do Sol. Estou fadado a não voltar mais lá. Sou agora uma criatura d...
a noite. Outras veias pulsantes me interessam.

- E a Transilvãnia?

- Aquela ingrata? Trocou-me por um lobismem das bandas do Cariri. Imagine que vivia me chamando de cachorro, a rapariga. E agora deu para gostar de uivo ao luar do Sertão. Vá entender as muleres, cabra. Vá entender!

Numa fria (poemeto)


Cara-de-pau, sim, admito, eu sempre fui
aí caí na besteira de dar em cima daquela lambisgóia
Medusa é o meu nome riu-se a convencida
E deixou-me assim: com cara-de-sequóia.

É isso aí, amizade...

- Pois é, agora sou escritor.
- É mesmo e... quanto já ganhaste?
- Uns trinta, quarenta...
- $$$$$????
- Não, amigos.
- ???
- Moeda forte, com lastro.

Prosa (minicrônica)

Prosa

Quando criança, no sertão de Crateús, eu costumava passar férias escolares na casa das minhas avós. De vez em quando elas largavam seus afazeres, trancávamos a casa a tramela ( para os animais domésticos não entrarem, e não os homens; pois naquele tempo podia-se até dormir de porta aberta.) e saíamos para fazer visitas. Os vizinhos, eram todos compadres, comadres.

Minhas avós amorteciam a...
minha impaciência infantil:

"É só uma prosa com a cumadre S. Coisa rápida. Toma o café e fica quieto!"

"Que cousa, minino? É o tempo de um dedin de prosa com o cumpadre F Coma uma broa e sossega!."

Prosa. Passei a prestar a atenção às conversas. E descobri que o aquela gente inculta ebela praticava, o proseio do dia-a-dia, a prosopopéia, pasmem, era Poesia pura.

Bananas (miniconto)

 - Chega aí. Olha só o que eu descolei.
- Caraca!! Isso é.... dinamite?
- Que tu acha? O vigia da pedreira lá na Cantareira que descolou. Chegado meu.
- E aí, quando a gente vai detornar uns caixas?
- Hoje mesmo, na hora do jogo. Com a foguetada toda ninguém vai nem notar.
- Porra, tu é crânio véio! Pensa em tudo.

Aquela noite não houve foguetório. O time local fracasso...
u. E os parceiros resolveram assim mesmo detonar o caixa. Só que as bananas de dinamite, úmidas, falharam.

- Só tu mesmo para arranjar essas porras vencidas.
- Eu pensei que...
- Tu é burro mesmo! Quando pensa, pensa errado!
Gaveta Sentimental (poemeto)

Do amor que tive, o que guardo?
Ora, não ria:
nada de flor seca em meio a um livro
Ou fotografias com dedicatória.
Cartas? Uma só: De alforria.
Lay Lady Lay

Emengarda - ela assim se chamava
E pomposa ainda assinava : Lady Loretta Emengarda
Por ela eu não sabia se casava
Ou comprava uma espingarda
Por via de dúvidas ou medo
Pus-me a flertar com o degredo
E comprei uma passagem (só de ida)
Pra Passárgada

681. haicai


veja a mariposa
que da noite é uma dama
não nasceu pra esposa

30 maio, 2012

EM BREVE
POESIA

Cem anos - 100 palavras


Acabo de receber pelo correio, de Portugal, a antologia de minicontos Cem anos - 100 palavras - Homenagem aos 100 anos da Universidade do Porto, da qual participo.

24 maio, 2012

680. funeral do político corrupto (miniconto)

Quando baixou o túmulo, mesmo sem o recurso milenar das artes egípicias, mumificou-se. Não o devoraram os vermes; pois, como se sabe, os pequenos asquerosos não são dados ao canibalismo.

Literatura futebol Clube

Literatura Futebol Clube - Antologia

Este livro é dedicado para estas pessoas, que ainda não descobriram que futebol não são apenas onze homens suados correndo atrás de uma bola. Porque futebol é, em sua essência, puro e simplesmente amor. Amor incondicional. Enorme, imenso, sublime e incalculável amor. ...  



Participo desta antologia da Editora Multifoco com o conto Paixão e Morte de Um Torcedor, uma homenagem ao time do coração do menino que eu fui e ainda busco resgatar: Ceará "Vovô" Sport Clube.                

07 maio, 2012

679. haicai

tetos e tetas
queixa-se o desconsolado anão
inalcansáveis metas.

678. haicai

da minha janela
vejo o reflexo da vidraça tua
Nossos olhos.

677. miniconto - Sequência

O coração. Não resistiu à terceira parada. E ele agora descansa. No campo santo da Quarta Parada,

676. haicai

poema concreto
do pedreiro analfabeto
emenda e soneto

675. haicai

Estação das águas
O morro intimida mais
Que o som do trovão

674. UFC

Quando o segurança da boate Rhoddes, todo arrogante, veio pra cima de mim tentando me intimidar, fiz cara feia, e apontei para a sigla impressa na minha camiseta: UFC.
Tava dado o recado. O cara me mediu do alto e riu com desprezo. Mas não quis tirar a prova. Para todos os efeitos aquela camiseta da Universidade Federal do Ceará tinha me sido verdadeiramente útil.

19 abril, 2012

673. Zoon Politikon (Animal Político)

Aprendi nos antigos seriados policiais da TV: ninguém é obrigado a falar senão em juízo. Mas por falta de juízo, escrúpulo ou vergonha, e também movido por um tolo lapso de vaidade, ascendi ao parlatório.
“Não tenho palavras…”, comecei dizendo. E mentia. Haja vista que, além da habilidade de falar inverdades, tenho o dom da oratória. Se apenas me ativesse à máxima que afirma que quem cala consente, não teria sequer aberto a boca. E me salvaria o não dizer. Mantendo-a fechada, também evitaria as incômodas e abundantes moscas não menos oportunistas que eu.
“Parla!”, esbofeteei-me o verniz da face.

23 março, 2012

672. haicai para minha avó rendeira, Dona Anja (Ângela)

nuvens de algodão
pelas mãos de minha avó
viram labirintos

671. Ignis Mutat Res


IGNIS MUTAT RES*

Chico Pascoal (Letra&Música)


Risque o fósforo/Acenda
o fogo
Faça figa, reze/ Rasta
que se preze
Com todos os reveses
Sobe o rio Zambeze
O Reggae vai pegar.

Fagulha na palha/chama
que se espalha
Acabou o
sossego/renegue o arrego
Chá de descarrego
Daqui a pouco eu chego
O Reggae vai regar.

Sob as bênçãos de Jah/
Sol é pra purificar
Fogueira que arde e não
queima/ Na forja, no forno.

Lava ou cera
quente/magma/ferro incandescente
Luz fosforescente/meio
de repente/ ilumina em torno.

Purgatório /labareda/coisa
acesa/estopim/ salamandra/ponto de fusão
Krakatoa/Coivara/Espírito
Santo/Babilônia/boca de dragão.


*.Fogo
que tudo transforma.

670. Para Dalton Trevisan (miniconto)

Elétrico, esfrega as mãos, fuma, cofia o bigodinho de arroz-doce. É olheiro dos bons. Prospecta. Nos bailes de debutantes do Clube Social provê a Casa de Irene.

659. Na estrada (miniconto)

"O senhor é meu pastor, nada me faltará” Lia-se no pára-choque do caminhão. Dentro da cabine
o velho e a menor. Faltava vergonha.

19 fevereiro, 2012

658. Quem Não Gosta de Samba (Miniconto)

Enquanto lá fora, no ensaio da escola, os tambores aqueciam, ele municiava o rifle. Tinha na cabeça uma idéia: talvez fizesse um estrago na própria cabeça. Talvez estourasse a cabeça de outrem. De qualquer forma iriam dizer que ele não era bom sujeito, que era ruim da cabeça...

04 fevereiro, 2012

Acordes Fantásticos

A série Acordes Fantásticos é uma homenagem da Editora Estronho aos clássicos do Heavy Metal. Os volumes são inspirados nos títulos de algumas das músicas que mais marcaram uma geração inteira de roqueiros. E para começar a série, foi escolhida Paranoid, do Black Sabbath.
Organizada por Felipe Santos e M. D Amado Prefácio de Duda FalcãoAutor Convidado: Chico Pascoal (este que vos escreve)
Enfim, uma honra, participar de mais uma antologia. Agora como convidado.