20 agosto, 2010

576. um conto policial ainda sem título

Naquele mundo às avessas, pensava o Sargento Cordeiro, nada mais o haveria de surpreender. E de repente - fogo no cerrado - o boato de que a mulher o corneava. “Tá cheirando a chifre queimado”, chacoteavam-no com crueldade, apontando-o pelas costas. Antes tivesse levado um tiro, pensou.

Educado, fino trato, manso como o animal que lhe dava o sobrenome, diziam, melhor que estivesse no serviço burocrático, no serviço de relações publicas da PM. Quem podia imaginá-lo em uma situação de risco?

Com a arma da corporação entendia não podia fazer os dois. Usaria a outra, com a numeração raspada, apreendida em diligência. Mamão com açúcar. Esperou. Para não agir ao sabor da emoção. Ocupou a cabeça em fazer simulações. Elaborava minuciosamente, escrevia e reescrevia mentalmente o roteiro. Na juventude, benditos arroubos, cometera alguns curtas em super 8. O sonho de tornar-se diretor de cinema todavia ficara para atrás. Virou mesmo foi policial, personagem de um filme violento e repetitivo.

Matou-os. Numa sexta-feira de Agosto em um Motel na saída da cidade. A cena do crime – as vítimas nuas sobre a cama redonda tingida de vermelho e refletidas no espelho do teto - fotografada pelo perito, por si só indicava que o amante assassinara a sua esposa e em seguida cometera suicídio.

Principal suspeito, o sargento Cordeiro tinha um álibi. Testemunhas e câmeras de circuito fechado do bar onde passara a noite do crime bebendo jogavam a seu favor. Estranho era que até então ele sempre havia se definido como abstêmio. Quando o perguntaram, disse que se decidira a tomar uns tragos para ver se afogava toda sua mágoa.

Um ano depois, calmas as águas, e com o pretexto de realizar o velho sonho de estudar Cinema pediu baixa e mudou-se para a Capital. Não disse pois ninguém precisava saber, mas ia morar justamente com o seu irmão gêmeo com quem nos momentos difíceis, sabia, sempre podia contar.

575. confissão

Matei-a sim. Mas foi por amor, juro! Por ódio jamais o faria. Se assim o fizesse, matasse por ódio, seria um assassino serial; pois odeio tudo e a todos. Só a ela amei. Minha mãezinha.

574. o trem de Ibiapaba


O “Trem Horário”, que eu me lembre, compadre, nunca se atrasava. O tempo naquele tempo é que vivia sempre avexado. Acho que pra mode nos envelhecer.

16 agosto, 2010



Em breve vai sair um E-book Minimos Contos, resultado do Concurso promovido pelo Simpósio Internacional de Contadores de Histórias. Entre os 33 selecionados tem um continho meu. Confiram.

http://www.simposiodecontadores.com.br/

573. hai kai n.59

No espelho do lago
O salgueiro -chorão penteia
Suas madeixas

572. hai kai n.58

Panapaná
Borboletas mil enfeitam
Meu chapéu panamá