26 dezembro, 2016

Poema

Antes
Muito antes
Eu bem que quis
Ser
Poeta
Beatnik

Até
Que choveu
Pra caralho
No meu
Piquenique

E um uísque
On the Rock
Pôs a pique
O meu Titanic.

Poema




tua lucidez
meu desvario

teu mar calmo, interno
meu corpo no cio

tua semelhança
minha divergência

tua temperança
meu senso de urgência

meu jeito de ser
teu modo de vida

tua autoestima
minha causa perdida

meu andar à toa
teu itinerário

tua voz velada
meu canto corsário

tua luz tranquila
minha impaciência

meu orgulho tolo       
sinal de nascença

Sonhei que estava um dia em Portugal...
À toa num carnaval em Lisboa
Meu sonho voava além da Poesia
E encontrava o poeta em Pessoa


Andei pela Baixa, Alfama, Chiado, Ribeira
O dia inteiro
Procurando por Álvaro, Ricardo, Bernardo
Alberto Caeiro.

E estava ali, na Garrett, o poeta
Para por fim ao meu desassossego,









 X CLIPP - Concurso Literário de Presidente Prudente - Ruth Campos


Tem uma crônica minha na antologia publicada decorrente do concurso abaixo: confiram!



27 abril, 2016

Pequenos Escritos Sinistras Estórias - Contos




http://www.amazon.com.br/Pequenos-Escritos-Sinistras-Hist%F3rias-Mierling-ebook/dp/B017OMNO6S/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1447022041&sr=8-1&keywords=pequenos+escritos

Clichês - Miniconto

Saiu dizendo que ia comprar cigarros e simplesmente desapareceu. A esposa abandonada,  típica dona-de-casa que jamais havia trabalhado fora,  viu-se em sérias dificuldades financeiras e teve que se virar para criar os filhos.  Como a necessidade é a mãe da invenção, em vez de se chorar as pitangas ela botou a cabeça pra pensar e não tardou a descobrir sua veia empreendedora. Assistiu palestras no SEBRAE, meteu as caras e, com muito esforço, montou um pequeno boteco, que logo virou bar famoso na cidade.
Um dia o canalha do marido, envelhecido, apareceu diante dela, do outro lado do balcão.
- O que você quer? - disparou a esposa a quima-roupa.
- Um maço de Hollywood – ele disse – e um isqueiro BIC. Tem?

O Filme - Miniconto

Foge há dias. Perseguem-no incansáveis. Nos raros momentos em que se permite um rápido cochilo, o sonho se repte: guardas armados conduzem-no ao paredão e vendam-lhe os olhos. Só então ele consegue ver tudo, inclusive o filme de sua vida que anos depois será exibido em concorrida pré-estreia no Cine Oregon.
 
Detalhe: no final o herói morre.

"O Pretexto" - Conto


"O Pretexto" é um conto que escrevi para o concurso do Rota das Letras – Festival Literário de Macau, em 2014.

Não foi um dos ganhadores, mas tive o privilégio de vê-lo publicado no Jornal Ponto Final, de Macau.

Segue para leitura e apreciação.


https://contosdofestivalrotadasletras.wordpress.com/

21 setembro, 2015

Antologia de Poesia Paulista "Além da Terra, Além do Céu".


Antologia de Poesia Paulista "Além da Terra, Além do Céu".

 Está a sair em terras de Portugal,  e traz um poema meu, que não é este que escrevo abaixo:

 



Versos d’além mar

Amém!

Pós-escritos, ó pá!! Ora pois!!

Que estou a fingir também

Na iminência de um porém

Como mentes

Quem vós sois

 

28 agosto, 2015

O Okinawano - Conto em e-book


 
O  Okinawano
 
 
Jovem Sumotori principiante vê-se de repente alçado às alturas e assiste perplexo a um acontecimento inusitado que, só aos poucos percebe, diz respeito a si e aos próprios anseios.

 
 

Deja Vu (miniconto)

Ele já tinha visto tudo aquilo antes. E podia até mesmo antever o que, inevitavelmente, iria acontecer em seguida, quando, apesar da inutilidade do elemento surpresa, flagrasse os dois na cama. Sabia também que, novamente, fora o último a saber; mas não se importava mais. Desta vez, porém, como das outras vezes, jurava por Deus, iria criar coragem e mudar o enredo. Esquecia-se, por exemplo, que se esquecera de comprar uma arma. Era ruim de memória. Talvez por isso mesmo a natureza sábia o recompensasse com a repetição dos eventos da sua vida. Tudo começara, ele não lembrava, ainda na escola, quando repetira cada um dos anos do ensino fundamental.

21 agosto, 2015

Caminhos do Fantástico Volume II (Antologia)

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 OS CÃES TAMBEM SORRIEM
Chico Pascoal              
“... e dizem que os cães veem coisas.”
Moreira Campos
  Nos estertores da tarde agonizante, a potente D-20 enlameada com tração nas quatro rodas avança endiabrada pela estradinha esburacada e escorregadia (chovera bastante na noite anterior) que margeia o rio e estaciona em frente à acanhada maloca do Zé Saruê.  Os cachorros, dois magricelas sarnentos, que desde lá de baixo vêm a toda em perseguição ao carro, estancam feito idiotas sem saber bem o que fazer agora que a caça não lhes foge.
 
(fragmento do conto de minha autoria constante desta antolgia)
 
 
 
 
 
 
 

Realismo ( Miniconto)

Enquanto Míriam lia Borges, Garcia Márquez, Rulfo, Cortázar, Lispector.... Cléber assistia o Fantástico.

2 haicais


 

Manhã de garoa

O cinza dos edifícios

Da cor dos teus olhos

 

 

Doze olhos felinos

Espreitando do escuro

A gata deu cria

 

 

Medo I (poema)



Tenho medo sobretudo

Dos telefonemas noturnos

Quando me surpreendem

Com seu toque estridente

Perfurando com precisão

A matéria sólida do silêncio.

 

Torço desesperadamente                                                               

Para que se trate

De mais um nessa sucessão de enganos.

 

Mas a morte, veja bem,

Nunca se relegará a ser um mero engano

Ela move-se dentro deste mesmo silêncio

E sabe o nosso número.

Fique certo, portanto,

De que Ela não abre mão de ser

Uma certeza.

 

Quando eu abrir a guarda

E a morte me pegar de jeito

Certamente será

Como um desses telefonemas noturnos        

Que tanto temo

Ou um golpe bem encaixado

Que me fará dormir

E que de nada adiantará

Abrir contagem.                                    

 
Entendo que viver, sim, pode ser um engano.

 

01 junho, 2015

O Jumento de Imbauba (conto)


O Jumento de Imbauba (conto)

  

O cerco em volta da Fazenda Imbaúba do Coronel Ximenes pelos cabras dos Mererés  já levava meses. Os sitiados resistiam bem, já que tinham reunidos víveres e munição em grande quantidade.

Ao contrario, os sitiantes, que por causa da difícil geografia daquele sertão e de suas lonjuras, via o moral de sua tropa cair vertiginosamente e as deserções ocorrer com cada vez mais frequência.


Foi quando o mulato Oliveiros, cria bastarda do  Padre Limaverde, vigário do Ipu com quem aprendera a ler e escrever, tendo tido inclusive acesso aos Clássicos em grego e latim,  dirigiu-se ao comandante Capitão Mané Lau  dizendo saber como desalojar o inimigo.

 

“Deixe de rodeios e diga logo o que tem a dizer, cabo! Se me vier com bestagens mando aplicar-lhe logo uma pisa de urtiga cansanção”

 
O cabo enxerido sugeriu então ao seu superior que incumbisse Mestre Zé Abrão, santeiro afamado e furriel da tropa, de construir um jumento de mulungu em tamanho natural, o qual seria enviado na véspera do dia de Reis aos sitiados como sendo uma réplica benzida do asno em cujo lombo o Menino Jesus escapara para o Egito.

“Um jumento? E tu acha mesmo que pode dar certo?”


“Deu uma vez na antiga Grécia, na guerra contra Troia, meu comandante. Só que la usaram um cavalo”

 
O Capitão mesmo sem botar muita fé deu a autorização. E o jumento foi feito numa noite.
 

Quando na manhã  seguinte os guardas viram o tão perfeito jumento de pau deixado na porteira principal da fazenda, associaram imediatamente a sua imagem com a cavalgadura em que o divino infante evitara tornar-se vitima do sanguinário rei Herodes; ficaram comovidos e o levaram para dentro.

 

Eurípedes Afrânio,  genro do Coronel, não era homem de armas. Alias, suas armas eram outras: a pena, o saber. Ao ver a soldadesca conduzindo em procissão o jumento de madeira e o colocando diante da capela, riu pelas ventas.
 
“O senhor meu sogro já ouviu falar da historia do Cavalo de Troia?”

 
“E lá é hora de ficar ouvindo historia, rapaz?”


“Ouça e vai entender o que eu quero dizer. Tem muito a ver com a nossa situação neste momento”

 
Mais por insistência da filha Zefinha que por vontade própria, o fazendeiro e chefe- político permitiu que Eurípedes contasse sobre a tal  historia da Guerra de Troia.


“Então  é isso?”, admirou-se o Coronel no final. “Pensa a canalha que pode me fazer de otario? Vou mostrar pra eles que Ximenes Saião não cai num truque besta desses”

 
E imediatamente mandou seus jagunços juntarem lenha e  botarem fogo na obra do Mestre Zé Abrão.

Mal as chamas subiram, ocorreu uma enorme explosão provocada pelas bananas de dinamite colocadas pelos Mererés na barriga do jumento.

 
Foi dessa forma besta que  a desafortunada imbaúba, como a desditosa Troia de antigamente, finalmente caiu.

 

23 março, 2015

Notas do Egeu


 

 


 
Enredado em seu redemoinho

Emaranhado  em lascivo sonho

leva aos lábios lúgubres o seu pífano

Pífias notas, pobre escala, pandemônio.

 
 

Nereida

 

À flor d’água

Guirlanda de orvalho

anágua transparente

 

 
Medusa

 

Fita-me

E serei pedra

E sobre esta pedra erguerei

O teu oráculo

 

 

Pitonisa
 

Atira-se sem discernimento

No meu colo

(Eu trípode)

Como quem sucumbe ao canto das sereias do Egeu,

E dá gritos e uivos e parece mesmo possuída por um Deus

Enleva-se.

 
 

 

Prometeu

 

Juro por vós, ó divindades

Não o fiz por mal

Apenas eu queria

Acender

O meu cachimbo.

01 setembro, 2014

POEMAS COM POETAS


1

 

É isso ai, bicho!

Enquanto eu vasculhava

Que nem pinto no lixo

Cacos e mais cacos do acaso.

Por acaso

Descobri

A poesia

de

Cacaso

 

 

 

2

 

 

Madrugada

vibra furioso o telefone

a perturbar-me o sono

é  Ledo Ivo? – pergunta do outro lado uma voz triste

Não, Não é – respondo de maus bofes

É  Ledo engano

 

 

 

3

 

Vai, vai Carlos, vai ser Gauche na vida!

Não vou!

Por que não se até o Mario foi?

Mario? Que Mario?

O Quintana

Ora, este não é Gauche, Uai

é Gaúcho

Ah!!

 

 

 

4

 

Quase por um triz

Não cai-me no olho um haicai

Da Alice Ruiz

 

 

5

 

Heteronímia

 

Pessoa é outra pessoa

Ou finge que não o é

 

 

6

 

Hidrófobo

 

A espuma de creme de barbear

Nos bastos bigodes polacos de Paulo Leminski

denunciam

acentuada hidrofobia

 

cão- índio

canídeo

Ensaia suave a dança da chuva

E ameaça

Nosso

Piquenique

12 agosto, 2014

embate (haica)


Nem um Round
Sustentei no embate poético
Com Ezra Pound

A Mosca (conto)

Acordou espichado em uma cadeira giratória dessas de escritório, o corpo dolorido, a boca seca, braços e pernas dormentes – a corda apertada? Do alto descia uma luz forte que lhe perfurava os olhos. Era 1971. E não era sua primeira vez.

“Os nomes! Quero os nomes, filho-da-puta!”, ouviu pela direita, com a audição boa, a que não perdera na ultima sessão .
 
“Coronel Diamante”, associou. Pela voz rouca, autoritária, imperativa. A chapa ia esquentar.

 No alto, ele percebeu, uma mosca reluzente pousou na borda do prato branco onde o olho amarelo lâmpada se encaixava. Por algum motivo que lhe fugia a compreensão, o inseto auto-imolava-se, entregava-se em sacrifício.

No seu caso, não havia nada a fazer senão torcer para que aquela cena de aula de ciência passasse despercebida. Que não sugerisse nada ao seu algoz.
.

miniconto


Ledo havia sido desenganado. Para que não sofresse, continuavam enganando-o.

Postal de Macau (vintage) - Inspiraçao para um Conto

 
 


01 agosto, 2014

Minicontos - original e versão


 

“Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.”
(Anton Tchekhov)

 

 

“Um homem, em São Paulo, vai ao bingo, perde tudo, volta para casa e, sorrateiro,  arromba o cofrinho das crianças”

(versão de Chico Pascoal)

A Sereia (miniconto)

            Jovem, bela, carismática, Irene trabalhava no Aquário da cidade. Era a sereia graciosa que nadava imperturbável entre peixes e quelônios, entre conchas e corais, a despertar nos visitantes sentimentos distintos em relação a si: as crianças, porque inocentes, acreditavam-na encantada; os pais, porque lascivos, a desejavam ardentemente; as mães, porque invejosas, a odiavam.
 
Uma manhã, ao abrirem o aquário,  encontraram Irene boiando no tanque, o rosto perfeito de uma palidez suavemente azulada, os olhos opacos, os cabelos esverdeados como as algas.
Sua frágil natureza não resistira ao veneno destilado pela perfídia  dos olhares de despeito.  

Embate


Nem um Round
Sustentei no embate poético
Com Ezra Pound

Pedras, Noites, Poemas ( a Paulo Leminski)


As pedras estão todas ai, sob os caminhos aplainados e  as vias principais

E ao contrario dos dados  já não rolam.

 

As noites caem sem alarde em avalanche sobre nossas cabeças

Mas não como cai o céu fuliginoso usurpado por terríveis maquinas voadoras

E pássaros covardes em sazonal diáspora.

 

Os poemas no entanto subsistem:

Aos cacos – que juntamos em nosso tolo afã arqueológico.

Aos retalhos – que alinhavamos como inúteis remendos

Em nossa esburacada roupa de domingo.

20 junho, 2014

Inveja (miniconto)

Teimoso, não dera ouvidos aos conselhos e comprometera naquela transação todas suas economias. Enganaram-no. Artimanhas de gente de má fé, seu sonho da casa própria simplesmente se desfez no ar. Cabisbaixo, arrasado,  sem saber o que fazer e que rumo tomar na vida, deixou-se ficar  em meio à matéria-prima de quinta categoria espalhada pelo terreno baldio onde pretendia erguido o que pudesse chamar de lar. Foi quando viu arrastar-se diante de si, lento no seu ritmo de molusco gastrópode,  um velho caracol carregando a sua concha calcária.

O Gato e o Gaturamo (Nekoo e Fuukinchoo)*


Gato, muro

Pássaro, ramo

Sayonará*

Gaturamo.

 

 

フウキンチョウ (fuukinchoo = Gaturamo) 

(Nekoo = Gato)

 

さようなら (Sayonara – Adeus)


haicai (máscara)


Insólito agosto
Em vez de caírem as máscaras
Cai meu rosto
 
 

06 maio, 2014

O Ano do Cavalo - 2014


Ano do cavalo

Percorro as ruas sujas do bairro

A meio-trote

Mostrando os dentes

Numa imitação barata de sorriso.

 

Ano do cavalo

Escoceio-me por dentro

Empino (o sol a pino)

E Ninguém me dá bom-dia.

Multiconto Colorido - #ff66cc

Indiferente às pedradas homofóbicas, Ele cantarola La Vie en Rose e segue em frente pelo calçadão, de cabeça erguida, equilibrado em seus saltos-agulha.
 
Participação no projeto do escritor gaúcho Marcelo Spalding
 

5 nanocontos 2014


1.       Em suma... Sumiu!

 

2.       Jogava verde, sempre: o incorrigivel ecologista.

 

3.       Riu amarelo o reino inteiro – em consonância com o Mandarim.

 

4.       Tímido? Eu? – ruborizou. E o espelho riu-se dele.

 

5.       Botei tudo a pratos limpos! – gabou-se o glutão.

 

Desvio-me (poema)


 

Desvio-me

Como posso

Do que quer que me atires:

 

Pedras

Pragas

Facas

Flores

Beijos

Copos

Corpos

Pires.

 

Esquivo-me dos teus olhares:

 

Dardos

Petardos

Balaços

E de todo um calhamaço

De mensagens subliminares.

 

Esquivo-me dos equívocos

Oculto me no desvão

No sótão

Tão só

Exposto

Alvo

Em tua alça de mira

Mesmo que atires

E não me firas

Senão

No meu coração.