quinze para a meia-noite deixa meio zonzo o prédio cinzento do IML onde acaba de identificar o corpo do tio solteirão que desaparecera já há alguns meses e dirige-se ao metrô consolação. arrasta os passos sem pressa, desce as escadas, cruza a frieza metálica da catraca e posta-se na plataforma. está sozinho.
mãos nos bolsos da jaqueta jeans desbotada, sentidos estimulados por sucessivas doses de cafeína, espera junto à linha amarela.
o trem assoma no túnel. o serviço de alto-falante todavia anuncia que o mesmo será recolhido para manutenção e portanto não há de parar naquela estação - um procedimento técnico, de praxe.
o trem se aproxima, o deslocamento de ar lhe assanha os cabelos que começam a rarear. os vagões, as luzes acesas, passam rápidos à distancia de dois palmos do seu nariz constipado. ele os supõe vazios mas o que vê ou imagina ver é um passageiro solitário, olhos profundos a acenar-lhe com a mão raquítica e ossuda, a dar-lhe um solitário adeus.
"Tio...", balbucia ao mesmo tempo que sente um calafrio percorrer-lhe a espinha e morrer na base da nuca.
o trem já passou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário