11 fevereiro, 2011

608. passarela

Flor de favela, beleza esguia e exótica moldada pela fome, Iracema sonhava com a passarela. Não passou despercebida aos olhos experientes de um selecionador. Na pressa e na ansiedade de comparecer à agencia de modelos em que faria o teste redentor, atravessou a avenida aquela manhã sem olhar para os lados e foi colhida por um automóvel em alta velocidade. Na grama rala do canteiro central, enquanto esperava o socorro da ambulância pública que não chegaria a tempo, mal respirava e ainda sonhava: Via-se em passos de ave pernalta, exuberante num modelito de griffe, a desfilar na velha passarela de concreto que metros acima seccionava o céu fuliginoso da cidade.

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