Quando do
passamento do interno Audálio Olvedo, a causa mortis, segundo o médico
do próprio Sanatório F. Nietzsche, deveu-se a uma otite aguda causada por
severa ação bacteriana. Ninguém ousaria contestar o laudo oficial daquele
profissional respeitável, mas Honório Bustos Domecq, companheiro de quarto
e adversário preferido do morto em memoráveis partidas de xadrez,
sustentava a versão de suicídio.
- Para que se resolva este caso,
senhor – opinou Domecq dirigindo-se ao diretor da instituição de
recuperação de esquizofrênicos - precisamos antes descobrir quem fez
facilitou a entrada de uma pistola nesta casa.
- Uma pistola. O que o senhor
quer dizer?
- Quero dizer que a vítima,
por alguma razão, foi induzid a disparar contra o próprio ouvido.
O Diretor não se alterou.
Para ele não era novidade que o paciente Jorge Luis Borba assumisse
a personalidade de detetives imaginários, de personagens consagrados pela
ficção policial. Um dia era Marlowe, outro podia ser Maigret. Às vezes acordava
Sherlock Holmes e dormia Inspetor Espinosa. Era a sua mania. Por causa
dela era que vinha sendo, sistematicamente , ao longo dos anos, sempre que as
crises se acentuavam, recolhido àquele manicômio. O momento, a ocorrência do
óbito em si, também colaboravam.
Experiente o Diretor sabia dos
riscos de contrariar os delírios de um interno e, sendo ele próprio um
aficionado aos romances de detetive, achou melhor fazer o jogo.
- Ok, Domecq. Ordenarei uma busca.
Quando localizarmos a arma a encaminharemos à pericia técnica. Quem sabe
descobrindo em nome de quem está registrada possamos chegar ao mentor do crime.
- Adianto porém que já localizei
a arma, senhor.
- Já? Quanta presteza, rapaz! E a
trouxe consigo?
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