Na volta do trampo, tão
cansado estava que não percebeu o olhar de pena e de maldade dos vizinhos. No
barraco vazio, a comida fria na mesa, mas nem sinal dela. Lá acima
o funk rolava solto.
De madrugada, ela voltou
trançando as pernas roliças e caiu na cama feito uma pedra.
Cheirava a álcool, erva,
sexo, perfume, suor...
Ele ainda acordado, fumava.
Ela ressonava quando Ele
apanhou a mochila e o pandeiro que ainda lhe dava alegrias. Sem pressa
espargiu álcool sobre pelas paredes, riscou outro fósforo e desceu a viela.
Lá embaixo, já no asfalto,
parou e ficou assistindo o espetáculo do fogo se alastrando, devorando
tudo. Tamborilava o instrumento mas não demonstrava apreensão.
“Nero?”, alguém tocou seu
ombro.
Voltou-se. Era o Biro, um
chegado. Ex-traficante ali mesmo no morro, agora convertido em Pastor da Igreja
do Povo Eleito. Decerto de volta do culto.
“Que tu faz na rua a esta
hora, homem de Deus? Procurando a Jane?”
Nero tirou uma baforada,
olhou o clarão lá encima, fechou o pulso e tossiu seco. Era um sujeito calado,
reservado. Costumava guardar para si seus problemas o que na maioria das vezes,
lhe fazia muito mal. Mas naquela situação, excepcionalmente , sentia-se bem.
Muito bem. Bem até demais. Continuou tamborilando o pandeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário