21 setembro, 2015

Antologia de Poesia Paulista "Além da Terra, Além do Céu".


Antologia de Poesia Paulista "Além da Terra, Além do Céu".

 Está a sair em terras de Portugal,  e traz um poema meu, que não é este que escrevo abaixo:

 



Versos d’além mar

Amém!

Pós-escritos, ó pá!! Ora pois!!

Que estou a fingir também

Na iminência de um porém

Como mentes

Quem vós sois

 

28 agosto, 2015

O Okinawano - Conto em e-book


 
O  Okinawano
 
 
Jovem Sumotori principiante vê-se de repente alçado às alturas e assiste perplexo a um acontecimento inusitado que, só aos poucos percebe, diz respeito a si e aos próprios anseios.

 
 

Deja Vu (miniconto)

Ele já tinha visto tudo aquilo antes. E podia até mesmo antever o que, inevitavelmente, iria acontecer em seguida, quando, apesar da inutilidade do elemento surpresa, flagrasse os dois na cama. Sabia também que, novamente, fora o último a saber; mas não se importava mais. Desta vez, porém, como das outras vezes, jurava por Deus, iria criar coragem e mudar o enredo. Esquecia-se, por exemplo, que se esquecera de comprar uma arma. Era ruim de memória. Talvez por isso mesmo a natureza sábia o recompensasse com a repetição dos eventos da sua vida. Tudo começara, ele não lembrava, ainda na escola, quando repetira cada um dos anos do ensino fundamental.

21 agosto, 2015

Caminhos do Fantástico Volume II (Antologia)

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 OS CÃES TAMBEM SORRIEM
Chico Pascoal              
“... e dizem que os cães veem coisas.”
Moreira Campos
  Nos estertores da tarde agonizante, a potente D-20 enlameada com tração nas quatro rodas avança endiabrada pela estradinha esburacada e escorregadia (chovera bastante na noite anterior) que margeia o rio e estaciona em frente à acanhada maloca do Zé Saruê.  Os cachorros, dois magricelas sarnentos, que desde lá de baixo vêm a toda em perseguição ao carro, estancam feito idiotas sem saber bem o que fazer agora que a caça não lhes foge.
 
(fragmento do conto de minha autoria constante desta antolgia)
 
 
 
 
 
 
 

Realismo ( Miniconto)

Enquanto Míriam lia Borges, Garcia Márquez, Rulfo, Cortázar, Lispector.... Cléber assistia o Fantástico.

2 haicais


 

Manhã de garoa

O cinza dos edifícios

Da cor dos teus olhos

 

 

Doze olhos felinos

Espreitando do escuro

A gata deu cria

 

 

Medo I (poema)



Tenho medo sobretudo

Dos telefonemas noturnos

Quando me surpreendem

Com seu toque estridente

Perfurando com precisão

A matéria sólida do silêncio.

 

Torço desesperadamente                                                               

Para que se trate

De mais um nessa sucessão de enganos.

 

Mas a morte, veja bem,

Nunca se relegará a ser um mero engano

Ela move-se dentro deste mesmo silêncio

E sabe o nosso número.

Fique certo, portanto,

De que Ela não abre mão de ser

Uma certeza.

 

Quando eu abrir a guarda

E a morte me pegar de jeito

Certamente será

Como um desses telefonemas noturnos        

Que tanto temo

Ou um golpe bem encaixado

Que me fará dormir

E que de nada adiantará

Abrir contagem.                                    

 
Entendo que viver, sim, pode ser um engano.

 

01 junho, 2015

O Jumento de Imbauba (conto)


O Jumento de Imbauba (conto)

  

O cerco em volta da Fazenda Imbaúba do Coronel Ximenes pelos cabras dos Mererés  já levava meses. Os sitiados resistiam bem, já que tinham reunidos víveres e munição em grande quantidade.

Ao contrario, os sitiantes, que por causa da difícil geografia daquele sertão e de suas lonjuras, via o moral de sua tropa cair vertiginosamente e as deserções ocorrer com cada vez mais frequência.


Foi quando o mulato Oliveiros, cria bastarda do  Padre Limaverde, vigário do Ipu com quem aprendera a ler e escrever, tendo tido inclusive acesso aos Clássicos em grego e latim,  dirigiu-se ao comandante Capitão Mané Lau  dizendo saber como desalojar o inimigo.

 

“Deixe de rodeios e diga logo o que tem a dizer, cabo! Se me vier com bestagens mando aplicar-lhe logo uma pisa de urtiga cansanção”

 
O cabo enxerido sugeriu então ao seu superior que incumbisse Mestre Zé Abrão, santeiro afamado e furriel da tropa, de construir um jumento de mulungu em tamanho natural, o qual seria enviado na véspera do dia de Reis aos sitiados como sendo uma réplica benzida do asno em cujo lombo o Menino Jesus escapara para o Egito.

“Um jumento? E tu acha mesmo que pode dar certo?”


“Deu uma vez na antiga Grécia, na guerra contra Troia, meu comandante. Só que la usaram um cavalo”

 
O Capitão mesmo sem botar muita fé deu a autorização. E o jumento foi feito numa noite.
 

Quando na manhã  seguinte os guardas viram o tão perfeito jumento de pau deixado na porteira principal da fazenda, associaram imediatamente a sua imagem com a cavalgadura em que o divino infante evitara tornar-se vitima do sanguinário rei Herodes; ficaram comovidos e o levaram para dentro.

 

Eurípedes Afrânio,  genro do Coronel, não era homem de armas. Alias, suas armas eram outras: a pena, o saber. Ao ver a soldadesca conduzindo em procissão o jumento de madeira e o colocando diante da capela, riu pelas ventas.
 
“O senhor meu sogro já ouviu falar da historia do Cavalo de Troia?”

 
“E lá é hora de ficar ouvindo historia, rapaz?”


“Ouça e vai entender o que eu quero dizer. Tem muito a ver com a nossa situação neste momento”

 
Mais por insistência da filha Zefinha que por vontade própria, o fazendeiro e chefe- político permitiu que Eurípedes contasse sobre a tal  historia da Guerra de Troia.


“Então  é isso?”, admirou-se o Coronel no final. “Pensa a canalha que pode me fazer de otario? Vou mostrar pra eles que Ximenes Saião não cai num truque besta desses”

 
E imediatamente mandou seus jagunços juntarem lenha e  botarem fogo na obra do Mestre Zé Abrão.

Mal as chamas subiram, ocorreu uma enorme explosão provocada pelas bananas de dinamite colocadas pelos Mererés na barriga do jumento.

 
Foi dessa forma besta que  a desafortunada imbaúba, como a desditosa Troia de antigamente, finalmente caiu.

 

23 março, 2015

Notas do Egeu


 

 


 
Enredado em seu redemoinho

Emaranhado  em lascivo sonho

leva aos lábios lúgubres o seu pífano

Pífias notas, pobre escala, pandemônio.

 
 

Nereida

 

À flor d’água

Guirlanda de orvalho

anágua transparente

 

 
Medusa

 

Fita-me

E serei pedra

E sobre esta pedra erguerei

O teu oráculo

 

 

Pitonisa
 

Atira-se sem discernimento

No meu colo

(Eu trípode)

Como quem sucumbe ao canto das sereias do Egeu,

E dá gritos e uivos e parece mesmo possuída por um Deus

Enleva-se.

 
 

 

Prometeu

 

Juro por vós, ó divindades

Não o fiz por mal

Apenas eu queria

Acender

O meu cachimbo.