Todo
dia o paraplégico Agostinho ia à beira de um enorme precipício com a firme determinação
de que dali se atiraria para acabar com a sua vida – algo que não pedira, fardo
que tanto o incomodava - mas nunca
encontrava a coragem necessária ao cumprimento do que se propunha. E
limitava-se a chamar a plenos pulmões a si próprio de covarde e ouvir o
irritante eco, lá embaixo, nos socavões.
“Covarde!
Arde! Arde! Arde! Arde! Arde! Arde!”
Um
dia – havia chovido muito na noite anterior – ele aproximava-se da borda do
penhasco para mais uma tentativa de suicídio quando
escorregou e despencou pela encosta acidentada entre pedras e espinhos.
Foi
uma queda e tanto. Ossos fraturados, traumatismos, hematomas... e ele ainda vivo, que vaso ruim, como dizem,
não quebra. Apesar de tudo isso não conseguiu o que queria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário