Meia–noite. Lua cheia alta no céu a refletir na superfície líquida da represa. Insone tomo a fresca. E fumo. Nem uma brisa. As águas estão calmas, límpidas, um grande espelho. Nelas diviso apenas um contraste: um tronco boiando, acho. Um tronco? Espera aí! Será aquilo um tronco mesmo ou estarei a ver coisas? Parece mais um.... Deus meu! Um corpo. Sim, sem dúvida é um corpo.
Decido que devo averiguar. Cogito que seja de alguém conhecido; mas pelo o que me consta não correu boato algum no povoado de que alguém tenha sumido nas últimas horas.
Apago o cigarro no piso de concreto da barragem. Tiro as botinas, dispo-me. Um arrepio encrespa-me os pelos.
O nível da represa está baixo. Desço cauteloso, pé ante pé, pela escadinha de vergalhões de ferro enferrujada e toco com o indicador a água morna. Benzo-me três vezes.
Nado. Sou um bom nadador. Fui criado na beira do rio quando ainda não o haviam represado.
Trinta braçadas a frente deparo-me com o afogado. É um rapaz. Magro, porém musculoso. Dever ter no máximo uns dezoito anos. Está nu como eu e no seu rosto ainda imberbe diviso um estranho sorriso.
Enlaço o seu pescoço, tento arrastá-lo para a margem, em vão. Percebo que algo o prende pelo pé direito. Uma rede? A pesca está proibida mas há sempre quem se arrisque.
Largo o corpo, encho os pulmões e mergulho. Dou a volta por baixo do corpo e ...
Dou de cara com Ela. É ela que o prende.
Formas perfeitas. Metade peixe, metade mulher, bela como os velhos pescadores costumam descrevê-la. Os olhos faíscam como pedras verdes e a língua lasciva desliza pelos lábios rubros e sensuais.
Canta. Que reside no canto o seu poder de sedução. Foi dessa forma que atraiu este coitado, e é assim que ela tenta me enfeitiçar.
Canta. Suponho que seja uma melodia indescritível. Pena que eu não possa ouvi-la: nasci deficiente auditivo. Imerso no mais profundo silêncio.
Decido que devo averiguar. Cogito que seja de alguém conhecido; mas pelo o que me consta não correu boato algum no povoado de que alguém tenha sumido nas últimas horas.
Apago o cigarro no piso de concreto da barragem. Tiro as botinas, dispo-me. Um arrepio encrespa-me os pelos.
O nível da represa está baixo. Desço cauteloso, pé ante pé, pela escadinha de vergalhões de ferro enferrujada e toco com o indicador a água morna. Benzo-me três vezes.
Nado. Sou um bom nadador. Fui criado na beira do rio quando ainda não o haviam represado.
Trinta braçadas a frente deparo-me com o afogado. É um rapaz. Magro, porém musculoso. Dever ter no máximo uns dezoito anos. Está nu como eu e no seu rosto ainda imberbe diviso um estranho sorriso.
Enlaço o seu pescoço, tento arrastá-lo para a margem, em vão. Percebo que algo o prende pelo pé direito. Uma rede? A pesca está proibida mas há sempre quem se arrisque.
Largo o corpo, encho os pulmões e mergulho. Dou a volta por baixo do corpo e ...
Dou de cara com Ela. É ela que o prende.
Formas perfeitas. Metade peixe, metade mulher, bela como os velhos pescadores costumam descrevê-la. Os olhos faíscam como pedras verdes e a língua lasciva desliza pelos lábios rubros e sensuais.
Canta. Que reside no canto o seu poder de sedução. Foi dessa forma que atraiu este coitado, e é assim que ela tenta me enfeitiçar.
Canta. Suponho que seja uma melodia indescritível. Pena que eu não possa ouvi-la: nasci deficiente auditivo. Imerso no mais profundo silêncio.
publicado na revista terrorzine:
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