27 agosto, 2008

335. hai kai n.7

de cabeça para baixo
o morcego soletra
inscrições rupestres

334. hai kai n.6

sapinho degusta
um mosquito da dengue
seu dia de herói.

333. hai kai n.5

sem encontrar resistência
o sal da maresia
corrói a vontade dos canhões.

332. hai kai n.4

o bambuzal vibra
ao sabor do vento
e desorienta os morcegos.

331. hai kai n.3

estendido ao pé do ipê
o tapete de flores
recebe com honras o mendigo.

330. hai kai n.2

sombra no muro de arrimo
pantera ?
um gato - seu primo

329. hai-kai n.1

gaijin se esforça
capricha na letra
kanji invertido

328. as pernas do general

Por vinte e cinco anos e cinco dias as pernas compridas do general Tiburcio marcharam inseparáveis, na mesma disciplinada cadência. A esquerda, destemida como o dono à época, cedo o deixou a coxear: descuidada pisou numa mina anti-pessoal, se estraçalhou toda e virou lenda; já a segunda perna, cautelosa mas na definição de alguns covarde, decerto traumatizada pelo destino trágico de sua incauta irmã, não justificava a parte da calça que lhe cabia. Dedicou sua existencia ao amparo do dono. Desnecessario dizer que envelheceu com ele e sustentou resignada sua débil carcassa. Foi enterrada com ele com honras de heroi no mausoléu dos veteranos.