14 novembro, 2013

Eu nem aí (poema)

Do que falavam os outros
Pelos cotovelos
Curioso eu quis saber
E tentei Pegar o bonde andando
Bonde não havia – desde quando?
Ninguém soube me dizer.
Não me liguei
Nem me caiu a ficha
Pois ficha
Já ninguém usava
Eram outros tempos
- Não previ -
E pra variar
Eu nem aí
Estava.

3 haicais

1.

Sandálias gastas
Aparar as arestas do caminho
Já me basta

 
2.

A vida passou
Tão bela e não menos frágil
Bolha de sabão

 
3.

Ê vida besta
Ontem foi domingo – fui á missa
Hoje já é sexta

Forma (poema)


Quero
Preencher
Com a massa amalgamada
do gesso
Estes vãos, estes vácuos
Estas frestas, fendas
Estas reentrâncias e saliências
Que são
A tua ausência
Minha amada.
E depois
Com a tua forma
Me conformar.

Para Sempre (miniconto)

“Se alguém aqui presente souber de algo que possa impedir este casamento, que fale agora ou cale-se para sempre.”, desafiou o virtuoso padre Orestes.
 
E por não se manifestar ele próprio, conhecedor que era dos segredos mais íntimos de toda aquela gente, nada mais conseguiu pronunciar até o fim dos seus dias.

Como Acaba (miniconto)

Depois de mil e uma noites, o rei se encheu de todas aquelas estórias que lhe contava a esposa. Demonstrava cansaço e enfado e já não aguentava mais ouvir  narrativas de folhetim.
- Não quer saber como acaba, amado esposo? –ainda insistiu a rainha contadora.
-  Como acaba? – seus olhos faiscaram. E desembainhou a velha cimitarra há tempos sem uso.