16 setembro, 2008

336. Elvis

Antes de morrer, Adalberto, o taxista, chamou a esposa e confidenciou-lhe um último segredo:

“ Elvis não morreu”

“Grande novidade”, ela disse.
“Esperava que me contasse que me traía com a Cida Cabeleireira, aquela vaca”

Ele riu e tossiu e pediu calma – a voz era um fio. Nem sombra do vozeirão que jurava ter tido.

“Você não bota fé, não é? Mas eu posso provar”

“Provar o que?”

“Que Elvis não morreu, ora!”

“Está bem, homem. Vá lá, prove”

Adalberto fez uma pausa e revelou-lhe:

“Eu sou Elvis, Marilda. Elvis Aaron Presley”


Marilda não queria acreditar mas rendeu-se quando ele lembrou-a de como, com aquele peso todo, conseguia fazer o diabo com os quadris. E e de como quando, no meio da noite, sonâmbulo, costumava se expressar em inglês fluente com sotaque do Tennesee, assustando-a .

Como veio parar em Santo Inácio do Pinhal, no entanto, nem ele próprio conseguia explicar; já que por aquele tempo, admitia, as drogas pesadas é que estavam no comando dos seus atos.

Diante dos olhos mareados da esposa, ele finalmente entregou os pontos. Descansou. E ela,como sempre fazia, às vezes por pirraça, e para não perder o costume, contrariou-o:

“Você estava errado, Adalberto. Totalmente equivocado. Elvis está morto, sim. Mortinho da Silva”