21 maio, 2009

445. a ceiba

Arqueólogos descobriram, sob uma antiga árvore de Ceiba na periferia de Tegucigalpa, o fóssil de um dinossauro de 150 milhões de anos. O lugar não ficou pela descoberta mais famoso do que já era; posto que era à sombra daquela Ceiba, dizem, que costumava fazer la siesta o famoso escritor hondurenho Augusto Monterroso.

444. o mestre dos bonecos

Manipulava as marionetes como ninguém – tinha sido instrutor do próprio Imperador.

443.um anjo

Sua vida andava apagada, seus dias eram foscos assim como seus olhos. Sentado naquela praça, desprovido de ânimo, mal via quem passava. Foi quando aquele anjo de cara suja e asas rotas com uma caixa de madeira às costas se aproximou e perguntou: vai um brilho aí, moço??

442. reaproximação

Ele entrou no Brega e, como tinha visto de outras vezes que ali estivera, lá estava ela, sozinha, sentada na mesma mesa. Fumava. Os pensamentos pareciam se enredarem e se elevarem pela espiral de fumaça. Chegara cedo. Antes de começar o movimento. Na radiola, Odair José interpretava com competência um clássico dos seu repertório. Aproximou-se. Postou-se bem à frente dela e levantou-lhe o queixo, já com algumas rugas disfarçadas pelo blush. Os olhos, aqueles olhos negros que uma vez o haviam enfeitiçado, permaneceram baixos, apáticos, opacos.

- Balbina...
- Shirley – respondeu ela, esquivando-se, evitando-o – Balbina morreu, já era!
- Mamãe também – deu-lhe a notícia esperando dela qualquer expressão ou gesto.
- Não já passava da hora?- riu com sarcasmo.
- Todo mundo tem sua hora, Bina.
- Shirley.
- Como quiser.

Pediu uma cerveja e dois copos, puxou uma cadeira.

- Quero te pedir que voltes para casa.
- Quando tivestes que escolher, foi a ela que escolhestes.
- Minha mãe tinha grande influência sobre mim, tu bem sabes. Agora... Agora ela é morta. Vamos enterrar junto com ela o passado.
- Já está enterrado. E tu.. tu fazes parte dele.
- Podemos tentar... Quem sabe... Você não acha?

Os primeiros clientes começaram a chegar. Eram insetos atraídos pelas lâmpadas rubras pendentes do teto e pelo cheiro das fêmeas. Odair José já passeava por outra faixa do LP. Ele teve que tomar a cerveja sozinho.

20 maio, 2009

441. o sumotori

Kumori, o okinawano, sentiu-se incrivelmente leve nos seus cento e cinqüenta quilos aquela manhã. E pensou que estava a sonhar ao se dar conta que flutuava suave por sobre os telhados da aldeia como se fosse uma nuvem. Dali pode, por exemplo, contemplar a florada das cerejeiras que se estendia exuberante até as encostas da Montanha da Tartaruga. Intrigou-lhe a total ausência de brisa que inquietava os bambuzais e a face polida e tranqüila do lago das carpas da praça principal. Os tambores rituais do templo xintoísta estavam mudos, sisudos. O universo, com suas cores desbotadas, apresentava-se definitivamente estático. No pátio do antigo castelo, em volta de um círculo, viu, não sem desconfiança, uma multidão silenciosa e reverente. Dentro do círculo, agachado sobre os calcanhares, achava-se um jovem sumotori que ele reconheceu como sendo Shida Mamoro, de Hokkaido; este, diante de um pálido desafiante prostrado e sem os sinais vitais, parecia chorar. Só então Kumori percebeu que ganhava altura e que tudo o mais parecia tornar-se insignificante.

440. vocação

Voar está no seu sangue – começou como avião no morro; hoje pilota um Cesna entre Pedro Juan Caballero e os canaviais de Ribeirão Preto.

439. terapias I

Cromoterapia?? Não, não funciona comigo - disse o daltônico.