21 agosto, 2015

Caminhos do Fantástico Volume II (Antologia)

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 OS CÃES TAMBEM SORRIEM
Chico Pascoal              
“... e dizem que os cães veem coisas.”
Moreira Campos
  Nos estertores da tarde agonizante, a potente D-20 enlameada com tração nas quatro rodas avança endiabrada pela estradinha esburacada e escorregadia (chovera bastante na noite anterior) que margeia o rio e estaciona em frente à acanhada maloca do Zé Saruê.  Os cachorros, dois magricelas sarnentos, que desde lá de baixo vêm a toda em perseguição ao carro, estancam feito idiotas sem saber bem o que fazer agora que a caça não lhes foge.
 
(fragmento do conto de minha autoria constante desta antolgia)
 
 
 
 
 
 
 

Realismo ( Miniconto)

Enquanto Míriam lia Borges, Garcia Márquez, Rulfo, Cortázar, Lispector.... Cléber assistia o Fantástico.

2 haicais


 

Manhã de garoa

O cinza dos edifícios

Da cor dos teus olhos

 

 

Doze olhos felinos

Espreitando do escuro

A gata deu cria

 

 

Medo I (poema)



Tenho medo sobretudo

Dos telefonemas noturnos

Quando me surpreendem

Com seu toque estridente

Perfurando com precisão

A matéria sólida do silêncio.

 

Torço desesperadamente                                                               

Para que se trate

De mais um nessa sucessão de enganos.

 

Mas a morte, veja bem,

Nunca se relegará a ser um mero engano

Ela move-se dentro deste mesmo silêncio

E sabe o nosso número.

Fique certo, portanto,

De que Ela não abre mão de ser

Uma certeza.

 

Quando eu abrir a guarda

E a morte me pegar de jeito

Certamente será

Como um desses telefonemas noturnos        

Que tanto temo

Ou um golpe bem encaixado

Que me fará dormir

E que de nada adiantará

Abrir contagem.                                    

 
Entendo que viver, sim, pode ser um engano.