01 agosto, 2014

Minicontos - original e versão


 

“Um homem, em Monte Carlo, vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, se suicida.”
(Anton Tchekhov)

 

 

“Um homem, em São Paulo, vai ao bingo, perde tudo, volta para casa e, sorrateiro,  arromba o cofrinho das crianças”

(versão de Chico Pascoal)

A Sereia (miniconto)

            Jovem, bela, carismática, Irene trabalhava no Aquário da cidade. Era a sereia graciosa que nadava imperturbável entre peixes e quelônios, entre conchas e corais, a despertar nos visitantes sentimentos distintos em relação a si: as crianças, porque inocentes, acreditavam-na encantada; os pais, porque lascivos, a desejavam ardentemente; as mães, porque invejosas, a odiavam.
 
Uma manhã, ao abrirem o aquário,  encontraram Irene boiando no tanque, o rosto perfeito de uma palidez suavemente azulada, os olhos opacos, os cabelos esverdeados como as algas.
Sua frágil natureza não resistira ao veneno destilado pela perfídia  dos olhares de despeito.  

Embate


Nem um Round
Sustentei no embate poético
Com Ezra Pound

Pedras, Noites, Poemas ( a Paulo Leminski)


As pedras estão todas ai, sob os caminhos aplainados e  as vias principais

E ao contrario dos dados  já não rolam.

 

As noites caem sem alarde em avalanche sobre nossas cabeças

Mas não como cai o céu fuliginoso usurpado por terríveis maquinas voadoras

E pássaros covardes em sazonal diáspora.

 

Os poemas no entanto subsistem:

Aos cacos – que juntamos em nosso tolo afã arqueológico.

Aos retalhos – que alinhavamos como inúteis remendos

Em nossa esburacada roupa de domingo.