09 janeiro, 2009

356.culpa e expiação

quando foi preso era inocente. disse-lho desesperadamente às autoridades, à população, mas ninguém lhe acreditou. foi julgado e condenado a dez anos e no cárcere restou-lhe contar dias e as horas e nutrir-se de um ódio profundo do qual não imaginava ser capaz.

ao sair tinha em mente que na sua história faltava algo sem o que a justiça quedaria desacreditada e cometeu um crime. pronto: eles pediram e ele agora era de fato culpado. pagara com antecedência, é verdade, mas era finalmente culpado.

seu crime, porém, fora algo planejado e premeditado. quase perfeito. aproveitara brechas na lei emendada e remendada dos homens para se delinear. o punhal na mão de um terceiro, o dinheiro sujo na conta de outro e tudo se resolveu.

a inteligência limitada dos homens deu voltas em torno de si como um cão buscando o rabo e nada descobriu. e ele finalmente se sentiu vingado e aliviado daquele ódio antigo. todavia sua consciência ainda pesa, e ele tenta se convencer de que o tempo do arrependimento ficou lá, no fundo daquela cela.

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