14 janeiro, 2011

607. o preso político

O senhor R. Olivares tinha um sestro feio: de cinco em cinco segundos coçava discretamente o saco escrotal. Isso quando trabalhava na Secretária de Assunto Restritos e Confidenciais e podia fazê-lo tranquilamente sob o tampo da mesa de cedro em que elaborava relatórios diários e planilhas Excel que abasteciam os diversos órgãos e sub-órgãos da Administração Pública. Fora dali usava sempre, mesmo em dias abafados, um largo sobretudo com bolsos vazados através dos quais podia se coçar sem o risco do constrangimento.

Quando informações sigilosas vazaram causando prejuízos irreparáveis ao Estado, a polícia política o levou preso como suspeito. De mãos atadas, o senhor Olivares foi tomado por incontrolável desespero. Em cinco minutos, tempo em que durou sua resistência psicológica, deu com a língua nos dentes e confessou tudo, embora não tivesse culpa alguma.

Passou anos encarcerado. Tiraram sua liberdade, mas não completamente. As mãos continuavam livres .

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