03 outubro, 2011

656. travessia

Todo dia pela manhã tomava a balsa para o continente, onde lecionava; e ao entardecer, de volta, para a ilha onde tinha residência. Invariavelmente, durante a curta travessia, costumava sair do carro e fumar um cigarro, relaxar ver o movimento paquidérmico dos navios a manobrar no cais. No dia em que decidiu que iria parar de fumar, também não saiu do carro nem se preocupou em ver a coreografia lenta dos navios sob a batuta dos práticos. Na névoa baça da manhã, sob os holofotes da cabine da balsa, percebeu, com estranheza, um sorriso de satisfação no rosto do piloto que conhecia apenas de vista mas que sabia se chamar Caron, ou Caronte.

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