21 agosto, 2015

Medo I (poema)



Tenho medo sobretudo

Dos telefonemas noturnos

Quando me surpreendem

Com seu toque estridente

Perfurando com precisão

A matéria sólida do silêncio.

 

Torço desesperadamente                                                               

Para que se trate

De mais um nessa sucessão de enganos.

 

Mas a morte, veja bem,

Nunca se relegará a ser um mero engano

Ela move-se dentro deste mesmo silêncio

E sabe o nosso número.

Fique certo, portanto,

De que Ela não abre mão de ser

Uma certeza.

 

Quando eu abrir a guarda

E a morte me pegar de jeito

Certamente será

Como um desses telefonemas noturnos        

Que tanto temo

Ou um golpe bem encaixado

Que me fará dormir

E que de nada adiantará

Abrir contagem.                                    

 
Entendo que viver, sim, pode ser um engano.

 

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