18 março, 2009

381. o ex-mágico

Deu-se em Palermo faz algumas semanas: após confessar seus mais recentes crimes, o Capo local quis ter certeza de que o padre não iria abrir o bico e ordenou que ali mesmo, em frente alguns dos seus paroquianos que aguardavam a hora da missa, um dos seus capangas metralhassem impiedosamente o confessionário; depois saiu como se nada tivesse acontecido.

E, para estupefação dos que ali se encontravam, de fato nada aconteceu; pois logo em seguida o velho pároco abriu a portinhola e saiu ileso e impecável em sua batina preta.

Atirava-se já aos seus pés a beata mais antiga e devota gritando Milagre!,quando o padre a impediu:

“Milagre coisa nenhuma, dona Piovanna”, ralhou. “Milagre é coisa de santo e eu não passo de um pobre pecador.”

Só então ela lembrou-se de que quando eram jovens, o padre, oriundo de uma tradicional família local, tinha se encantado com um circo mambembe que passava pela cidade e acabara fugindo com ele a despeito da vontade paterna para que fosse estudar leis em Roma.

“Não esqueçam” alertou sem nenhuma modéstia porém no mesmo tom solene com que costumava fazer seus sermões: “Que já fui o maior mágico que esta península já teve. Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, Amém!”

A liturgia prosseguiu normalmente, sem sobressaltos.

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