12 março, 2009

380. auto da covardia

Estava só na plataforma. Naturalmente esperava. O intervalo entre um trem que viria e outro que passara um pouco antes que ali chegasse parecia uma eternidade. Pensou que podia se matar sem que ninguém o impedisse. Pensou também que podia continuar indo e vindo de casa para o trabalho, do trabalho para casa, percorrendo dia após dia aquela mesma linha, igual a um dejeto fecal que percorresse os intestinos da cidade.

Quando o trem apontou ele deu um passo atrás. Nada que cause estranheza pois nunca fora voluntário para nada. Sabia muito bem e como poucos – uma qualidade? - o valor da covardia.

Como se ele não existisse, ou fosse invisível, o trem passou batido, direto – ou foi sacanagem de Caronte, o condutor??

Ele podia jurar que o vira rindo, sarcástico.

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