20 maio, 2009

441. o sumotori

Kumori, o okinawano, sentiu-se incrivelmente leve nos seus cento e cinqüenta quilos aquela manhã. E pensou que estava a sonhar ao se dar conta que flutuava suave por sobre os telhados da aldeia como se fosse uma nuvem. Dali pode, por exemplo, contemplar a florada das cerejeiras que se estendia exuberante até as encostas da Montanha da Tartaruga. Intrigou-lhe a total ausência de brisa que inquietava os bambuzais e a face polida e tranqüila do lago das carpas da praça principal. Os tambores rituais do templo xintoísta estavam mudos, sisudos. O universo, com suas cores desbotadas, apresentava-se definitivamente estático. No pátio do antigo castelo, em volta de um círculo, viu, não sem desconfiança, uma multidão silenciosa e reverente. Dentro do círculo, agachado sobre os calcanhares, achava-se um jovem sumotori que ele reconheceu como sendo Shida Mamoro, de Hokkaido; este, diante de um pálido desafiante prostrado e sem os sinais vitais, parecia chorar. Só então Kumori percebeu que ganhava altura e que tudo o mais parecia tornar-se insignificante.

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