21 maio, 2009

442. reaproximação

Ele entrou no Brega e, como tinha visto de outras vezes que ali estivera, lá estava ela, sozinha, sentada na mesma mesa. Fumava. Os pensamentos pareciam se enredarem e se elevarem pela espiral de fumaça. Chegara cedo. Antes de começar o movimento. Na radiola, Odair José interpretava com competência um clássico dos seu repertório. Aproximou-se. Postou-se bem à frente dela e levantou-lhe o queixo, já com algumas rugas disfarçadas pelo blush. Os olhos, aqueles olhos negros que uma vez o haviam enfeitiçado, permaneceram baixos, apáticos, opacos.

- Balbina...
- Shirley – respondeu ela, esquivando-se, evitando-o – Balbina morreu, já era!
- Mamãe também – deu-lhe a notícia esperando dela qualquer expressão ou gesto.
- Não já passava da hora?- riu com sarcasmo.
- Todo mundo tem sua hora, Bina.
- Shirley.
- Como quiser.

Pediu uma cerveja e dois copos, puxou uma cadeira.

- Quero te pedir que voltes para casa.
- Quando tivestes que escolher, foi a ela que escolhestes.
- Minha mãe tinha grande influência sobre mim, tu bem sabes. Agora... Agora ela é morta. Vamos enterrar junto com ela o passado.
- Já está enterrado. E tu.. tu fazes parte dele.
- Podemos tentar... Quem sabe... Você não acha?

Os primeiros clientes começaram a chegar. Eram insetos atraídos pelas lâmpadas rubras pendentes do teto e pelo cheiro das fêmeas. Odair José já passeava por outra faixa do LP. Ele teve que tomar a cerveja sozinho.

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