23 outubro, 2009

508. fragmentos

O peito apertado, o nó na garganta...Queria explodir, estilhaçar-se, fragmentar-se em mil pedaços. Via diante de si naquele ocaso melancólico não o mar de Copacabana físico e real , mas um oceano revolto de impossibilidades. Tudo porque sempre fizera escolhas ruins e andara – para o desespero dos pais – em péssimas companhias. Agora já não tinha os pais a se acharem no direito de opinar sobre sua vida; todavia tinha impressão, quase certeza, de que andar consigo mesmo já era um péssimo negócio.

O desânimo que nem ao menos lhe empurra ao parapeito. Os dedos enrijecidos pela artrite agrilhoados perpetuamente em anéis. Os brincos de jade, as roupas de grife, os 120 pares de sapato, o violino de cordas arrebentadas... Dos objetos inanimados cuja função resume-se em domar sua compulsão perdulária e preencher seus vazios, o vaso chinês - vítima de bala perdida seus cacos se espalhavam sobre o tapete persa - era o que mais invejava.

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