23 outubro, 2009

511. namorada, precisa-se

Não era bonito nem interessante, nem experiente nem rico. Talvez fosse inteligente pois sabia de muitas coisas que os outros não sabiam, e tudo cultura inútil de que se valia sempre para uma coisa: impressionar. Sabia por exemplo a altura do Monte Everest, o hino nacional do Nepal, a capital do Uzbequistão, o lateral direito reserva da seleção uruguaia na copa de 50... Não sabia no entanto quem era seu pai, nem que fora adotado ou que comeu de sobremesa no almoço. Mas com isso não se importava; o importante é que tinha um objetivo, um propósito, ou nas suas próprias palavras, uma missão. E precisava mostrar que era capaz do sacrifício que se exigia para cumpri-la. Em suma precisava arranjar uma namorada. Não virtual, que já às tinha às pencas. Nem imaginária, pois sua imaginação tendia ao perfeccionismo fortemente influenciada pelo cinema e era bem capaz de idealizar uma super-modelo. Precisava mas era de uma namorada real, de carne e osso, que chorasse e risse, menstruasse quinzenalmente e morasse no mesmo bairro para que não precisasse ir longe demais pedalando sua velha bicicleta já que tinha fobia de transporte público.

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