12 novembro, 2012

O Suicida (conto policial)


Quando do passamento do interno Audálio Olvedo, a causa mortis, segundo o médico do próprio Sanatório F. Nietzsche, deveu-se a uma otite aguda causada por severa ação bacteriana.  Ninguém ousaria contestar o laudo oficial daquele profissional respeitável,  mas Honório Bustos Domecq, companheiro de quarto e adversário preferido do  morto em memoráveis partidas de xadrez, sustentava a versão de suicídio.

 

- Para que se resolva este caso, senhor – opinou Domecq dirigindo-se ao  diretor da instituição de recuperação de esquizofrênicos -  precisamos antes descobrir quem fez facilitou a entrada de uma pistola nesta casa.

 

- Uma pistola. O que o senhor quer dizer?

 

- Quero dizer que  a vítima, por alguma razão, foi induzid a disparar contra o próprio ouvido.

 

O Diretor não se alterou.  Para ele não era novidade que  o paciente Jorge Luis Borba assumisse a personalidade de detetives imaginários, de personagens consagrados pela ficção policial. Um dia era Marlowe, outro podia ser Maigret. Às vezes acordava Sherlock Holmes e dormia Inspetor Espinosa. Era a sua mania.  Por causa dela era que vinha sendo, sistematicamente , ao longo dos anos, sempre que as crises se acentuavam, recolhido àquele manicômio. O momento, a ocorrência do óbito em si, também colaboravam.

 

Experiente o Diretor sabia dos riscos de contrariar os delírios de um interno e, sendo ele próprio um aficionado aos romances de detetive,  achou melhor fazer o jogo.

 

- Ok, Domecq. Ordenarei uma busca. Quando localizarmos a arma a encaminharemos à pericia técnica. Quem sabe descobrindo em nome de quem está registrada possamos chegar ao mentor do crime.

 

- Adianto porém que já localizei a arma, senhor.

 

- Já? Quanta presteza, rapaz! E a trouxe consigo?

 
Quem depositou sobre a mesa de carvalho  diretor aquela pistola d’água de plástico transparente com detalhes verdes, e tinha nos lábios um sorriso triunfante, não era o interno José Luis Borba -  mas Honório Bustos Domecq, um dos mais perspicazes detetives do gênero literário policial.

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