01 agosto, 2014

A Sereia (miniconto)

            Jovem, bela, carismática, Irene trabalhava no Aquário da cidade. Era a sereia graciosa que nadava imperturbável entre peixes e quelônios, entre conchas e corais, a despertar nos visitantes sentimentos distintos em relação a si: as crianças, porque inocentes, acreditavam-na encantada; os pais, porque lascivos, a desejavam ardentemente; as mães, porque invejosas, a odiavam.
 
Uma manhã, ao abrirem o aquário,  encontraram Irene boiando no tanque, o rosto perfeito de uma palidez suavemente azulada, os olhos opacos, os cabelos esverdeados como as algas.
Sua frágil natureza não resistira ao veneno destilado pela perfídia  dos olhares de despeito.  

Nenhum comentário: