11 março, 2009

376. o último espetáculo

O Circo Bem-Hur fora à falência. Era o último espetáculo. Depois, como diz o jargão, era cada um por si e Deus por todos. Entrada livre e ninguém compareceu. Onde o respeitável público?? – o coraçãozinho das crianças, sabia-se, tinham sido há tempos arrebatados pelas mídias eletrônicas e games. Tristeza às pencas, muita tristeza.

O domador de feras, homem outrora enérgico, não conseguia sequer domar seu desanimo monstro; o mágico já não se iludia: só definhava, sumia aos poucos; a trapezista acometida de súbita labirintite mal se mantinha de pé para o derradeiro número;e o palhaço, num canto, chorava inconsolável e borrava a maquilagem. Nesse clima de velório só o anão foi capaz de um ato de grandeza: foi lá, soltou os bichos e ateou fogo à lona.

As labaredas logo tocaram o céu e iluminaram a noite. A cidade inteira acorreu ao local feito insetos em volta de uma lâmpada. Um espetáculo inesquecível.

O pipoqueiro vendeu como nunca.

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