15 maio, 2009

437. mino, o pequenino

“Em nome de que potentado vens a mim, ó homem de diminuta compleição? – inquiriu, soberbo e soberano, do alto do magnífico corcel azeviche que o tornava ainda mais imponente, Alexandre, o Grande, ao anão que lhe trouxeram suspenso pelos bracinhos curtos os soldados-batedores.

“De nenhum daqueles pobres governantes que ao teu poder belicoso se submetem ou hão de se submeter, ó supremo conquistador. Venho antes em meu próprio nome: sou Mino, o pequenino, filho bastardo de Horácolo”

Houve, reza a antiga lenda, um silêncio ensurdecedor sem dimensões ante tamanha ousadia que nem mesmo os amaldiçoados insetos que infestavam àquelas remotas paragens da Ásia Menor ousavam maculá-lo com seu irritante zumbido.

“Vosso nome e o do vosso pai nada são e nada me dizem. Mas é demasiado grande a vossa afronta comparada ao vosso tamanho”, advertiu Alexandre, não escondendo porém a admiração pela coragem daquele homenzinho corrugado e corcunda que parecia ter sido parido do ventre das montanhas vermelhas em forma de corcova que os exércitos da Macedônia então cruzavam.

O pequenino não desviou nem baixou os olhos miúdos; assim como não cogitou voltar atrás no que dissera.

“O que vem de baixo jamais me atinge!”, advertiu soberbo o Semideus. “Mas enfim, dizei-me o que queres, que sobre tudo e todos, nos céus, na terra e no mar, legislo e reino absoluto”

“Não quero nada senão o direito de olhar nossos vossos olhos, ó Rei dos reis!”

Alexandre relaxou a postura e riu embevecido: “Um admirador dos meus feitos, é o que tu és?”

“Sim, majestade. Pereceria frustrado da mesma forma se não o visse antes que morresse”

“E quem disse que pretendo matá-lo, ó miúdo?”, divertiu-se o Macedônio. E com ele riram seus generais e ordenanças.

“Desculpe-me, senhor! Quis dizer, antes de vossa morte”

Uma nuvem negra eclipsou o sol do meio-dia. Murmúrios de incredulidade em uníssono reverberaram nas encostas sem vegetação. Alexandre, repentina e definitivamente, perdeu a divina paciência, encolerizou-se, e ordenou que executassem o anão ali mesmo;o que não representou tarefa difícil para o seu arqueiro preferido.

Dias depois, em sonho, encontram-se novamente, vítima e algoz. Uma espécie de deja vu.

“Que queres?”, pergunta Alexandre com a mesma autoridade de sempre.

“De vós nada, senão esperar”

“Esperar o que, ó ser ínfimo?”

“Esperar por vós, ó nobre guerreiro, que não deveis demorar!”

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