04 agosto, 2009

465. david

Da janela do hotel em Bangcoc o velho ator estranhou mesmo que o dia tivesse nascido cinza. E que as coisas todas do mundo com exceção das túnicas alaranjadas dos jovens monges que cruzavam a praça estivessem em mil tons diferentes de cinza. Seus olhos estavam cansados. Suas pálpebras pesavam como os sinos de um templo e no entanto tudo que ele via movia-se sem que lhes ouvisse o som. Considerou que também a ele lhe faltassem as palavras . Logo escureceu. Lanternas opacas pontilharam a noite. E quando o velho ator já não mais esperava, de uma viela estreita ou de dentro dele mesmo, do rio que se esgueirava qual serpente logo adiante ou do sorriso bonito das moças que distraiam os turistas, veio um acalanto antigo, morno, que não lhe era estranho:

“Descanse, gafanhoto! Descanse!”, ouviu, quando já se acreditava privado de qualquer sentido.

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